Professor de Novo Progresso é destaque Nacional por proteger alunos em viagem em atoleiros na BR-163

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Professor vive saga para proteger alunos em viagem por atoleiros na BR-163 –

Dizem que a docência não é apenas uma profissão. Que ser professor é uma missão. Por vezes, divina. O incansável Joarez Araújo de Almeida, 47, é um exemplo disso. Há mais de duas décadas tem sido um verdadeiro anjo da guarda para crianças que saem diariamente da zona rural de Novo Progresso, no Pará – precisamente da comunidade de Linha Gaúcha -, baldeando os estudantes em direção a escola até a comunidade de São José.

Além de ensinar e educar, ele também tem que zelar pela vida dos alunos em meio à situação caótica de trechos que interligam Cuiabá a Santarém.

Juntos, professor e alunos normalmente enfrentam uma hora de viagem, saindo às 18 horas da cidade. Mas, nos meses de chuva, o trajeto fica bem longo e o ônibus escolar divide longas filas com caminhões e carretas que bloqueiam parcial ou totalmente a pista. Boa parte dos veículos estão carregados com a produção de soja de Mato Grosso em direção ao Porto do Arco Norte, em Santarém (PA).

Aliviado, conta que em 21 anos percorrendo esse trecho com alunos nunca sofreu acidente, mas que já passou por vários sustos. Em um deles, ele diz que Deus guardou a vida de todos. “Uma carreta passou tirando fininho, de até bater no retrovisor do ônibus. Susto bastante grande”, relata.

Com as fortes chuvas do último mês, o tempo de espera e as condições da pista acabaram por suspender a viagem dos alunos que estão há mais de uma semana sem estudar. Na companhia de outros dois professores, Joarez sai de Linha Gaúcha, sempre às 11h20, com 35 alunos que estudam na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEF), São José.

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Lá, o professor de 47 anos leciona as disciplinas de História, Estudos Amazônicos, Matemática, Religião e Artes, sendo responsável pelos alunos que cursam do ‘pré-um’ ao sétimo ano.

“Quando está seco demora cerca de uma hora. Mas nessa época a gente não tem horário de chegada, é bem difícil”, desabafa o professor que junto aos colegas e alunos, viaja pelo perímetro – que vai do quilômetro 1135 ao 1160, da BR-163.

Joarez ainda conta que a van escolar sai do colégio às seis horas da noite. “Mas da última vez que fomos à escola, chegamos às 22 horas em casa. As crianças chegaram bem abatidas, tinha crianças bem pequenininhas comigo”, relata Joarez, explicando que acompanha alunos com idade entre 4 a 14 anos.

Foto: Divulgação / O Livre Por

Situação delicada para quem percorre 25 quilômetros – agora intransitáveis -, que possui ainda, quatro serras. A que possui mais risco é a Serra da Anita. As outras três, são: Serra da Igrejinha, Serra da Manguaba, e a Serra do Lincoln, todas pequenas. Contudo, “todas ficam com difícil acesso nessa época, não deixam passar nada, porque fica liso”, explica o professor.

A angústia do professor não é apenas de não poder chegar ao trabalho, mas principalmente de que a situação desmotive seus alunos. Ele lamenta a incerteza de ter aula e as dificuldades que os professores e alunos enfrentam diariamente para ir à escola.

“É frustrante não ter certeza se vamos ter aula; queremos fazer o melhor no nosso trabalho, mas não temos aquela certeza”. Ele se questiona: “será que haverá aula na próxima semana? E assim a gente vai perdendo, os alunos perdem também. É bem frustrante para gente, é triste”, desabafa o educador.
Chegada em Novo Progresso

Joarez e sua esposa, Ana Amélia, têm três filhos e um neto. Ele lembra que chegou em Novo Progresso em 1980, quando tinha apenas 8 anos de idade, acompanhado de seus pais e três irmãos, vindos do estado do Paraná. Época que “não tinha nem trânsito”, relata. Mesmo com as dificuldades, “fomos aguentando e estamos até hoje aqui, e pretendo ficar por muito anos ainda”, afirma.

“Fiz parte da construção e da emancipação na época da fundação [do município]. Sempre estudei nas escolas públicas de Novo Progresso. Todos os projetos que a prefeitura trouxe, fiz parte. E trabalho na área da educação há 26 anos”, fala o esposo da agente comunitária, orgulhoso por contribuir com o desenvolvimento da cidade.

Por ser a rodovia que corta o Brasil, a BR-163 se tornou a principal rota para o escoamento das commodities mato-grossense e, neste ano, segundo o professor, “o fluxo de carreta cresceu muito, e [trafegabilidade] está mais difícil que os anos anteriores”, relata.

O professor Joarez Almeida avalia que essa operação não está servindo de nada. “Os coitados dos caminhoneiros ficam aqui à deriva. Sempre que posso ajudar eu ajudo. Eles chegam aqui atrás de água, muitas vezes atrás de comida. Até agora não vi o governo ajudando os caminhoneiros não”, afirma.

Ele ainda diz que o trabalho dos militares do Exército Brasileiro, de controle da pista, é importante na região. “Os carreteiros estão todos nervosos com eles, já. Mas se eles não estivessem, seria pior ainda”, avalia o otimista professor.

Fonte: O Livre/Edyeverson Hilário pautas@olivre.com.br

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